Geodésica do Centro de Realidade Virtual
No primeiro semestre de 2011, a Petrobras foi considerada a quarta maior empresa do mundo no setor de energia. Por trás disso estão investimentos em diversas áreas, principalmente em tecnologia e pesquisa, e também em suas próprias instalações. É o que se percebe quando o assunto é o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras II (Cenpes), considerado um novo paradigma da arquitetura contemporânea sustentável.
Inaugurado em outubro de 2010, o prédio, projetado pelo arquiteto Siegbert Zanettini, em coautoria com José Wagner Garcia, privilegia, nas novas instalações, o uso das estruturas em aço. A obra, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, incluiu reforma e ampliação do prédio já existente (o Cenpes I) e transformou os 150 mil m2 da área construída anteriormente em um total de 305 mil m².
Vista do prédio principal
A engenheira Heloísa Maringoni, da Companhia de Projetos, empresa responsável pelo cálculo das estruturas do Cenpes, acrescenta à lista de vantagens do material, flexibilidade, custo/benefício, facilidade no transporte, rapidez de montagem e organização dos canteiros de obras.
Em 2004, sem interromper as atividades do Centro, que continuou funcionando nas instalações antigas, e prevendo futuras modificações do espaço em função das pesquisas desenvolvidas e do crescimento da Petrobras, foram adotadas, basicamente, cinco soluções estruturais distintas para o complexo: estrutura dos laboratórios, do prédio central, do centro de convenções, do centro de realidade virtual e dos edifícios de apoio.
Área interna em montagem, e, na sequência,
vista posterior do complexo
vista posterior do complexo
Nos laboratórios, localizados no térreo, a estrutura foi padronizada, com vigas mistas em “I” e vãos principais de 10 m x 10 m, com espaçamento secundário a cada 2,5 m, para a adoção de lajes alveolares protendidas, voltadas às instalações técnicas e pipe-racks. Os números impressionam: só de perfis de aço foram consumidas 1.762 toneladas e erguidos, no total, 227 laboratórios, que podem abrigar mais de 3.500 cientistas, que desenvolvem estudos simultâneos em áreas como biotecnologia, meio ambiente, gás e energia, além de demandas do pré-sal, tornando-o o maior centro de pesquisas da América Latina.
Acima dos laboratórios está a estrutura do prédio central, uma espécie de circulação articuladora do edifício. Constituída por cinco blocos, utiliza a mesma modulação principal, de 10 m, e secundária de 2,5 m, que apoiam lajes steel deck. O travamento da estrutura metálica se dá nos blocos de circulação vertical em concreto moldado in loco. O vigamento a cada 2,50 m dispensa qualquer escoramento.
Além da concepção de arquitetura limpa, segura e ecoeficiente do projeto (ver box), conta ainda com uma grande cobertura em estrutura espacial, suportada por pilares tubulares em árvore, e revestida com telhas termoacústicas. A cobertura dos beirais recebeu chapas perfuradas.
Já para o centro de convenções, foi projetada uma estrutura radial com 75 m de diâmetro e cobertura secundária de sombreamento em tensoestrutura em alguns espaços. Tal material fica sobre uma estrutura metálica formada por 11 módulos – composta por arcos tubulares calandrados, dispostos em planos radiais sustentados e articulados nas extremidades de duas maneiras: internamente, por mastro vinculado ao solo e aos próprios arcos, e externamente, por duas escoras tubulares inclinadas.
O Centro De Realidade Virtual é lembrado como a parte mais inusitada, desafiadora e complexa do projeto. “Por ter forma geodésica elíptica, esta estrutura exigiu uma grande variedade nas angulações de nós e comprimento de barras. Precisou ser desenvolvido um sistema especial de equalização de custos para barras e nós, e para isso foi desenvolvido um sistema original, mas muito próximo de algo ancestral: as cestarias”, explica Heloísa, da Companhia de Projetos. A geodésica elíptica construída tem dimensões de 35 m x 20 m x 14 m, formadas por 960 triângulos, 1.623 barras e 477 nós, o que consumiu 345 toneladas de aço.
Vista geral do piso de ligação entre os blocos
de laboratórios, com a estrutura diferenciada de
cobertura
de laboratórios, com a estrutura diferenciada de
cobertura
Outro desafio da parte estrutural, foi lidar com o clima e salinidade do local. Devido a estes fatores, houve uma preocupação maior com a proteção da estrutura metálica, o que exigiu soluções complementares, como revestimento externo em fibra de vidro e resina pigmentada. Além disso, o material recebeu proteção contra corrosão e fogo. (C.E.)
Ficha Técnica
Projeto arquitetônico: Siegbert Zanettini (Zanettini – Arquitetura, Planejamento e Consultoria); José Wagner Garcia (coautor)
Área construída: 305 mil m²
Aço empregado: ASTM A572
Volume de aço: 6.800 t.
Projeto estrutural: Heloísa Maringoni (Companhia de Projetos Ltda.)
Fornecedor da estrutura metálica: não informado
Execução da obra: Consórcio Cenpes (Construtora OAS Ltda., Construbase Engenharia Ltda., Carioca Christiani-Nielsen Engenharia S.A., Schahin Engenharia S.A. e Construcap – CCPS Engenharia e Comércio S.A.)
Local: Rio de Janeiro, RJ
Data do projeto: 2004
Conclusão da obra: 2010
Ecoeficiência e sustentabilidade
O projeto de ampliação do Cenpes ganhou o prêmio Green Building Brasil na categoria Obra Pública Sustentável, em 26 de outubro deste ano. “Esta premiação reconhece a política da Petrobras em atuar de forma sustentável, sempre preocupada com as questões ambientais em todas as esferas de atuação”, afirmou, em nota à imprensa, o gerente geral da Petrobras, José Alfredo Thomaz.
Segundo informações da Zanettini – Arquitetura, Planejamento e Consultoria, os sistemas construtivos estruturais estão aliados à arquitetura, urbanização, sistemas de conforto ambiental e eficiência energética, sistemas prediais de utilidades e de recomposição dos ecossistemas naturais para garantir o “equilíbrio e a harmonia arquitetônica, decorrentes do dimensionamento adequado de cada espaço”.
Além disso, a empresa ressalta que o projeto é resultante de uma “nova prática profissional multidisciplinar integrada”. No total, a obra envolveu 30 especialidades, entre arquitetura, estrutura, instalações, ecoeficiência, paisagismo, planejamento e organização. De acordo com informações divulgadas pela Petrobras, durante a execução da obra foram gerados cerca de seis mil empregos diretos e 15 mil empregos indiretos.
Fonte: CBCA - Centro Brasileiro de Construção em Aço
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